quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Se isto é um Homem, Primo Levi


Este livro é a experiencia pessoal de Primo Levi, um judeu italiano, durante o Holocausto.
            Pessoalmente gostei bastante do livro e acho que este nos dá noções do mais geral para o particular à cerca deste período de tempo, e isso desperta-me um grande interesse.
            Notei que este livro apesar de se basear num assunto intolerável, atroz, está escrito de maneira bastante clara e fácil, o escritor não usa palavras de revolta e expressa todos os sentimentos e todos os acontecimentos de forma natural. Achei muito interessante o facto de o autor interagir com o leitor de modo a que este reflicta e se «coloque» na posição da pessoa em questão para compreender melhor o sofrimento e as situações pelas quais estas passaram. Numa breve passagem observamos um exemplo:«(…) e fizeram as malas, e de madrugada os arames farpados estavam cheios de roupas de crianças estendidas a secar ao vento; e se não se esqueceram das fraldas, dos brinquedos, das almofadas e das cem pequenas coisas que elas bem conhecem, e das quais os filhos sempre precisam. Não fariam o mesmo? Se amanhã esperassem ser mortos com o vosso filho, não lhe davam hoje de comer?»
            Deparei-me também ao longo da leitura que durante toda a experiencia de Primo Levi, este se dividiu em três fazes: a pergunta, a adaptação e a sobrevivência.
            A pergunta, apesar de estar principalmente marcada na primeira parte do livro, vai acompanhando o autor ao longo da sua experiencia. No inicio temos vários exemplos de perguntas como: «Para onde vou?» «Onde estou?» «Porquê eu?» «Que nal fiz eu?» «Onde estão os meus filhos, a minha mulher?» «O que me vai acontecer?». Todas estas são perguntas feitas e refeitas vezes sem conta, logicamente. Referi que estas perguntas estão sempre presentes pois o autor tem necessidade de ter sempre alguém em quem possa confiar e com esse alguém existe sempre troca de perguntas sem resposta num certo tom de desabafo entre eles.
            A adaptação é observada também no inicio da vida no campo de concentração. É a fase em que Primo Levi se adapta do sentido directo da palavra, aos horários, aos trabalhos, ao frio, ao calor, à organização. É toda uma nova «vida».
            Finalmente a sobrevivência, quando o autor ganha a consciência que qualquer descuido o pode levar à morte. É quando ele já tem noção que o mais pequeno pormenor é crucial à sua vida, como uma simples colher, um botão ou pedaços de papel.
            O título deste livro leva-nos a pensar na condição humana, que uma vez presente no nosso actual dia-a-dia, era inexistente nos campos de extermínio. A realidade à qual estamos habituados não nos faz lutar por uma colher ou desesperar pela falta dum botão na nossa camisa. Nós temos um nome, dignidade, direitos e poder de expressão. As nossas prioridades passam pelos nossos desejos. Contrariamente, ao lermos esta experiencia pessoal, vivemos outra realidade. Ninguém tinha direitos, dignidade, vida ou sequer um nome. Se isto é um homem? Posso certamente afirmar que não.

«Considerai se isto é um homem
Quem trabalha na lama
Quem não conhece paz
Quem luta por meio pão
Quem morre por um sim ou por um não
Considerai se isto é uma mulher
Sem cabelos e sem nome
Sem mais força para recordar
Vazios os olhos e frio o regaço
Como uma rã no Inverno.»


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